"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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Textos

OS VELHOS E OS MOÇOS

     Certa feita, Bertolt Brecht escreveu: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são os imprescindíveis”. A organização em prol de direitos próprios e de outrem não é de hoje. São muitos os exemplos, como quando, ainda na Revolução Industrial, crianças eram colocadas em jornadas perversas de trabalho e homens ficavam corcundas trabalhando agachados em minas de extração de metais até a morte.

     Nenhuma conquista costuma vir por benesse. A luta é o principal fomento da esperança da humanidade num futuro melhor e numa sociedade menos desigual. Nesse sentido, os jovens exercem um papel predominante, marcado pela generosidade, pelo descortínio, pelo idealismo. É por isso que uma das coisas em que o capitalismo aposta é no fato de que não se é jovem por muito tempo. Em seguida, as adversidades escrupulosamente colocadas para a juventude acabam por servir de entrave para a continuidade dessa fase humanitária marcada pela empatia e pela alteridade. E, assim, vai-se deixando de ser moço, vai-se transformando em outras pessoas, com sonhos menores e boletos frequentes.

     Não há uma idade para a rebeldia. Aí está o filósofo inglês Jeremy Bentham (1748-1832) para provar a assertiva. Economista, jurista e mentor da teoria do utilitarismo, que viveu até os 84 anos como polemista, ateu e questionador dos costumes da época. Todavia, os mais velhos costumam ser avessos às ideias revolucionárias, preferindo encerrar suas vidas como chauvinistas. Os jovens que eles foram costumam clamar num choro intermitente das profundezas de suas incômodas lembranças. Com ar desenxabido, riem de si mesmos. Mas riem de quando eram realmente uns dos bons de Brecht. À vida de fato, aspiram à ilusão da vida eterna. Todavia, suas poupanças de mérito já tiveram grandes retiradas que, agora, farão falta nessa jornada rumo ao esquecimento.

 

Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 8.7.2022.

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 21/07/2022
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