"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
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GUAÍBA: O SOL NASCENTE ESPELHA-SE NUM RIO OU NUM LAGO?

     Quando Manoelito de Ornellas faleceu, em 7.8.1969, ele estava escrevendo a terceira parte de suas memórias, que se chamaria “Estuário”, tendo por objeto sua vida passada em Porto Alegre. Os dois primeiros livros retrataram sua jornada em Itaqui (“Terra xucra”) e Tupanciretã e Santa Maria (“Mormaço”). Infelizmente, a Indesejada das Gentes não lhe permitiu a conclusão da obra e nos privou do que, certamente, seria uma relevante leitura.

     Esse preâmbulo nos remete a uma constatação: o renomado escritor itaquiense se filiava a uma corrente que indica o Guaíba como lago. E isso é algo chancelado por importantes pesquisadores, que o fazem com argumentos técnicos e consideráveis, como o de que os rios que nele desembocam conformam um delta; que aproximadamente 85% da água do Guaíba fica retida no reservatório por um grande lapso temporal; que seu escoamento é bidimensional, formando áreas com velocidades díspares entre si; e que os depósitos sedimentares das margens apresentam geometria e estrutura características próprias do sistema lacustre. 

     Todavia, como nada no mundo está imune à polêmica, há os que veem o Guaíba como rio. E quais suas razões? Dizem que ele possui um canal natural, com mais de 70 km de comprimento; que suas águas não permanecem retidas na bacia; que apresenta vazões médias superiores a 1,3 mil m³/s, com valores máximos que extrapolam 14 mil m³/s; que tem área superior a 500 km², com vazão média suficiente para renovar todo o montante d'água em uma média de nove dias; que exporta sedimentos para a Lagoa dos Patos em um volume superior a 1 milhão de toneladas por ano. É a esta corrente que eu me filio.

     Adoto tal conclusão porque, em águas paradas, não viajam sedimentos nem se renovam os fluxos. É rio, para pesar da especulação imobiliária, haja vista que lago tem proteção ambiental de 30 metros em suas margens e rio de 500 metros. Parafraseando Bertolt Brecht, ao rio que tudo arrasta chama-se violento, mas ninguém diz violentos os conceitos humanos que o degradam. Sobretudo as leis.

 

Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 27.5.2022.

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 31/05/2022
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