"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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A MÚSICA DOS "TCHÊS"
A música típica do Rio Grande do Sul passa por um momento de crise. Seu cancioneiro, que sempre primou por apresentar uma qualidade fruto da virtuosidade e da reflexão, atualmente está eivado de músicas que não dizem nada com nada, desprovidas de profundidade e destinadas a embalar os incautos. Delas decorre um som que faz o deleite de alguns ouvidos sensíveis, que é o tilintar das caixas registradoras dos bailões.

Analisando-se a música feita pela maioria dos grupos de baile, vê-se que são músicas e letras primárias o que eles têm a apresentar. Suas composições apresentam imprecisões sobre as coisas do mundo pastoril a que eles se propõem representar, além de erros crassos de linguagem, seja de português, seja do dialeto gaúcho. Há, inclusive, um grupo que grafa seu nome de forma propositalmente errada, lembrando o "xou da Xuxa".

Para isso tudo contribuem decisivamente os interesses comerciais da mídia, das gravadoras e de algumas instituições que promovem esse tipo de arrasta-pé. A mídia, principalmente a de rádio, na busca da audiência a qualquer preço, vai moldando nossos ouvidos de acordo com seus interesses. As gravadoras, por sua vez, com seus interesses meramente comerciais, vão lançando CDs cujo conteúdo se destina muito mais ao recavém que ao cérebro. Por fim, algumas instituições estão muito mais interessadas em promover um recontro lucrativo que organizar eventos com uma música de raiz, como é a música missioneira, por exemplo.

Marcus Pereira, que fez história na discografia nacional como produtor independente, registrou, na contracapa de um disco de Noel Guarany, o arrebatamento que ele produziu, só de guitarra, na multidão num show no Anhembi, em São Paulo. Já vai longe a época em que a meca da juventude era, em dezembro, Uruguaiana, com a Califórnia. Nossos bons músicos, hoje, estão condenados ao ostracismo. Nossas mentes e ouvidos estão à mercê de alguns refrões behavioristas, alguns inclusive primitivos, como aquele em que a mulher "quanto mais apanha, mais adora". É o laçaço amoroso.

As canções para fandango escrevem hoje o necrológio da música do Rio Grande. Terá esta, como Fênix, que renascer das cinzas. Do contrário, dançamos todos.


Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 15 DE ABRIL DE 2002.



Veja também:
www.cursodeportugues.zip.net
(Curso de Português)

www.megalupa.zip.net
(Jornal Megalupa)
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 10/03/2012
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