"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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O DECLÍNIO DOS FESTIVAIS
Em 1985, eu participava como jurado da 2a. Charqueada da Canção Nativa, em Pelotas. Um jornalista local postou-se de espia e de oitiva imediatamente atrás do júri. Ouviu nossas críticas ao saudosismo reacionário da maioria das composições. Pronto! No outro dia, o colunista desancava os jurados. Essa é uma estratégia vetusta para evitar o debate dos argumentos.

A ausência de debates, de oxigenação das idéias, poderia ser elencada ao lado de outras razões para se explicar o declínio dos festivais nativistas. Entre elas, o empobrecimento dos municípios, fruto de um modelo centralizador de recursos na União. As prefeituras sempre foram impulsionadoras das iniciativas culturais e artísticas. De um modo geral, hoje são entes falidos, cercados de demandas por todos os lados.

Uma outra causa pode-se ver na baixa qualidade do produto final. Muitas vezes era preciso rodar todo um disco para se achar uma ou duas músicas apreciáveis. E isso por quê? Porque muitos ficavam no limite do seu talento e outros compunham apenas para ganhar a ajuda de custo por cada composição classificada.

Não podemos nos esquecer também das razões éticas. Muitas comissões de jurados trabalhavam com critérios particulares, usando suas prerrogativas para facilitar a vida de alguns concorrentes. Sem realizar um julgamento isento, privatizavam o festival e realizavam uma verdadeira "ação entre amigos". Nem sempre a escolha recaía sobre os melhores trabalhos. Basta lembrar que ‘Poncho Molhado’, de Éwerton Ferreira e José Hilário Retamozzo, hoje um clássico do nativismo, nem sequer entrou no disco de um determinado festival.

Por fim, relembremos a ação de intermediários, que, sem sequer ter um gravador de rolo, apresentavam-se como "gravadoras". Terceirizavam a mão-de-obra e o equipamento, elevando o custo final do evento e comprometendo sua continuidade e sustentação.

A música do Rio Grande fala de um personagem singular e mítico, o gaúcho, que, não obstante as transformações sociotemporais, continua a despertar interesse. Contudo, para ela ter o realce merecido, é preciso haver menos fanfarronice e mais seriedade, menos personalismos e mais ética, menos cantilenas e mais melodias.

Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2001.


Veja também:
www.cursodeportugues.zip.net
(Curso de Português)

www.megalupa.zip.net
(Jornal Megalupa)
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 10/03/2012
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