"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos
O PROTETOR EM SEU LABIRINTO

     Quando o general José Gervásio Artigas cerrou seus olhos para sempre, exilado no Paraguai, em 1850, certamente seu último pensamento foi para sua pátria, o Uruguai. Ele foi o precursor da nacionalidade e por ela envidou o melhor dos seus esforços.
     Na sua luta pela emancipação do Uruguai, a Província Oriental, Artigas enfrentou espanhóis, argentinos, ingleses, brasileiros e portugueses. Com seu exército de índios, negros, gaúchos e soldados, lutou até as últimas forças pela autonomia provincial. Seu protetorado incluía também Missiones, Santa Fé, Entre-Rios e Corrientes. No programa, o federalismo, a reforma agrária, a demarcação das terras indígenas, a autodeterminação dos povos. Na sua luta, na sua ação, Artigas ombreia com Bolívar na odisséia da libertação sul-americana.
  Atacado de todos os lados, cercado, traído por colaboradores, Artigas viu ruírem suas forças e projetos diante da superioridade dos exércitos inimigos, que queriam castigar a audácia do chefe dos orientais por ousar sonhar uma pátria dos oprimidos. Para evitar cair vivo nas mãos dos inimigos, em 1820 exilou-se no Paraguai, sob a proteção do governo de Gaspar de Frância.
     Mais tarde, Artigas ainda veria o Uruguai independente, nação constituída a partir de 1828. Ainda lhe causará desilusão, contudo, a divisão partidária e as lutas fratricidas, o que deve ter influenciado para que continuasse em seu desterro. Decerto ainda lhe restavam intactas as palavras do general San Martín, que uma vez lhe escrevera que "no sacaria el sable de la vaina por opiniones políticas, como estas no sean en favor de los españoles o su dependencia". Assim, Artigas nunca voltaria em vida a seu amado Uruguai.
     E como vivia o ilustre exilado, confinado e vigiado por Frância, num pequeno lugarejo de nome Curuguayty? Dedicava-se à agricultura, dividia seus parcos recursos com os pobres e vivia de forma estoica. Contam que entesourava um exemplar da Constituição da Província Oriental do Uruguai. Assim ingressou na ancianidade, antevendo que a pátria um dia reconheceria seus serviços. Carlos Solano Lopez, então sucedendo Frância, levou-o para o sítio de Ibiraí, onde morreu em 23 de setembro de 1850, após 86 anos de idílio com a liberdade.

Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 8 DE JANEIRO DE 2001.
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 25/08/2020
Comentários
Eventuais recebimentos