Do presidente Michel Temer, chegou a seguinte carta:
“Prezado jornalista Elio Gaspari,
Meu governo nunca mentiu ou vendeu ilusões sobre a reforma da Previdência - uma questão de Estado, e não de governo -, pela qual pessoalmente me empenhei durante todo o ano de 2017 e continuarei me empenhando em 2018. (Isso é o que ele faz o tempo todo, culpando os trabalhadores pelo suposto déficit na Previdência, mas sem falar nas isenções, nos desvios para o caixa único e no fato de que uma CPI no Senado mostrou que a Previdência é superavitária.)
Mas não cabe ao Executivo, e sim ao Legislativo, decidir quando e como essa reforma constitucional será votada. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou o início da votação para 19 de fevereiro. Nunca neguei essa possibilidade. Na última quarta-feira, 13/12, afirmei publicamente: ‘Nós não sabemos se vamos votar a proposta agora, porque temos de ver o número de votos’. (Se não cabe ao Executivo, por que está comprando deputados?)
Já estive no comando da Câmara dos Deputados e aprendi que se contam os votos e se confere o placar, sempre volátil, até a última hora. Não se perdem facilmente nem a perseverança nem a esperança. Para ajudar a garantir, antes do recesso parlamentar, 308 votos ou mais, conversei com deputados, senadores, governadores, prefeitos, líderes partidários, empresários, ruralistas, sindicalistas, economistas - enfim, tentei ampliar ao máximo o diálogo em favor da reforma da Previdência. (O diálogo é um acordo em que os trabalhadores entram com a cabeça e Temer com a corda.)
Todo o meu esforço de mobilização nessa reta final era factível e absolutamente genuíno. Com a Previdência aprovada, o que ocorrerá em breve, 2018 será um ano de ainda mais confiança na nossa economia, depois de termos avançado em 2017 numa agenda reformista e modernizante. Vencemos ainda uma profunda recessão. Estão aí inflação e juros baixos recordes, recuperação dos empregos, dos investimentos, da produção e do consumo. (A economia continua estagnada e os juros baixos são porque não há consumo, a população não tem salário nem emprego e, portanto, não consome, diminuindo a demanda.)
Nenhum “governo fraco” conseguiria em apenas 18 meses tais resultados. Aliás, antes de 17 de maio - quando emergiram os primeiros sinais das inescrupulosas urdiduras conspiratórias que viriam a ser expostas contra a Presidência da República -, havíamos acabado de aprovar uma ambiciosa proposta na Comissão Especial da Câmara. ("Inescrupulosas urdiduras conspiratórias": Temer beira o escárnio ao dizer que conspiraram contra ele quando ele conspirou contra o povo, recebendo os membros da sua organização criminosa no meio da noite, à sorrelfa, e marcando para receber malas de dinheiro.)
Dado o meu comprometimento com a reforma da Previdência, é muito fácil atribuir a mim, como parte da imprensa vem fazendo, o desgaste político por insistir numa discussão aparentemente ingrata. Mas sei que é minha obrigação fazer isso. Não posso ser presidente da República sem me sentir responsável pelo futuro do Brasil e dos brasileiros. (Será que Temer pensa mesmo que fala por um povo que o odeia e sabe que ele é seu maior inimigo hoje? Ou pensa que o povo brasileiro são os banqueiros e os empresários que o apoiam?)
Boa parte do nosso povo começa a entender a extensão do problema e a apoiar a reforma. Confio que os deputados federais, nessas férias, vão perceber isso. Digo mais: estamos diante de algo que exige a responsabilidade de todos os partidos - e não só daqueles que apoiam o governo. ("Boa parte do povo?": Só se for o seu 1% das pesquisas.)
A proposta consensual que aguarda exame do Congresso prevê economia de cerca R$ 600 bilhões em uma década; assim será possível dar algum fôlego ao sistema e manter investimentos na área social. A emenda iguala a aposentadoria do setor privado e público, extinguindo privilégios, e salvaguarda a imensa maioria que recebe até dois salários mínimos, os trabalhadores rurais e os que dependem dos benefícios assistenciais. (O governo de Temer paga R$ 500 bilhões POR ANO só de juros de uma dívida pública que o povo não fez e ele quer economizar R$ 600 bilhões EM UMA DÉCADA. Tá de brincadeira, né? Em relação aos privilégios, ele se aposentou cedo (55 anos) e ganha mais de R$ 40 mil. Tá de brincadeira de novo, né?)
Continuarei na minha pregação em defesa da Previdência. Estamos tratando não do meu governo, insisto, mas do Brasil de 2019 em diante - da qualidade do futuro imediato dos brasileiros. (Temer, no seu cinismo, fala em país como se ele fosse de todos e não de refém de uma elite inescrupulosa à qual ele presta serviços tipificados no Código Penal.)
Atenciosamente, (maldosamente)
Michel Temer.”
Comentários de Landro Oviedo
Foi muito bom ter sido pelo convidado pelo meu amigo e músico Washington Gularte para ajudar, modestamente, a compor "Sureado", uma cantiga de integração forjada numa parceria entre brasileiros, argentinos e uruguaios. Foi uma honra, ficou muito linda. Para ouvir e apreciar, clique abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=3XZv4DOjACo
Eu, como gremista, também estou exultante com a conquista do tricampeonato da América. As conquistas anteriores ainda estão na minha mente, acariciando a emoção. Também está em minha memória a conquista da Copa do Brasil de 2016, que nos tirou um período de seca de 15 anos, tal qual a viúva que redescobre o prazer da carne depois de uma duradoura quarentena.
Entretanto, por conta dos méritos esportivos de toda a equipa, como dizem os portugueses, avultando também os do treinador do Crêmio, Renato Portaluppi, está sendo reforçada uma história descabida de colocar na Arena do Grêmio, que ainda não é bem do Grêmio, uma estátua para o treinador. Essa história vem desde a vitória na Copa do Brasil, logo após o jogo decisivo contra o Atlético-MG. Pela emotividade e por um certo constrangimento clubístico, apoiado por parcela da imprensa e boa parte dos torcedores, a proposta ganhou mais força após a vitória contra o Lanús, da Argentina, na data de 28.11.2017.
Não, Renato, estátua não é para profissionais bem pagos e de pouca atividade em prol do bem comum. Estátua não é para quem faz da alienação bem-sucedida uma forma de realce, sem se envolver com o drama de um povo que sofre nas mãos de uma elite secular e dominante. Estátua é para verdadeiros heróis como João Cândido, Lima Barreto, Frei Caneca, Luiz Gama, José do Patrocínio, Lila Rippol, Castro Alves, entre tantos outros que arriscaram suas vidas por suas verdades, que abriram mão de sua área de conforto em prol de seus ideais. O treinador do Grêmio apenas cumpriu com seu contrato, bem remunerado, numa área em que não há cheiro fétido nem perfume em relação às injustiças sociais do país. Estátua mesmo quem merece é o povo brasileiro, que sobrevive apesar de tudo e de todos que atravancam seu caminho. Além disso, culto à personalidade dos vivos nunca acaba bem nem é justo, como se viu no regime stalinista na Rússia. As lendas se formam com o tempo e o tempo das lendas não é o nosso tempo, fugaz e cheio de vaidades.
Estátua não, Renato! Deixa a história te levar. Homenagem do homenageado é melhor em testamento, dando ao futuro a prerrogativa da láurea com o real tamanho do merecimento.
Leia nesta edição - Número 41 - Novembro-dezembro de 2017
- Banda podre do STF se une a acordão para barrar a Lava Jato
- Detrans estão a serviço da arrecadação
- Caderno de Notas ("TAL TEMER, TAL MINISTRA", “PREVIDÊNCIA", “REFORMA TRABALHISTA", “MARCHEZAN E SARTORI")
- OPINIÃO/ROBERTO DO REGO BARROS / Pena de morte no Brasil existe sim
- CONTO/AFIF SIMÕES NETO / "A pipa do Catulino"
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O dicionário Aulete (www.aulete.com.br) nos ajuda a entender por que a saudação é escrita com hífen, a par de "boa-tarde" e "boa-noite".