Em brilhante artigo publicado no Estadão (21.9.2021), o articulista Pedro Fernando Nery questiona por que os jovens estão ausentes das decisões efetivas dos destinos da nação. Isso me fez lembrar um trecho da obra de Somerset Maughan.
Advertência: nunca leia Somerset Maughan como mero entretenimento e só faça isso com boa autoestima.
"Ansiava [o jovem Philip] por aventuras e sentia-se ridículo por não ter ainda, na sua idade, experimentado aquilo que a ficção lhe ensinara ser a coisa mais importante da vida. Possuía, no entanto, o dom infeliz de ver tudo como na verdade era, e a realidade diferia terrivelmente do ideal dos seus sonhos.
Não sabia como é vasto, árido e escarpado o país que o viajante da vida tem de atravessar para poder aceitar a realidade. É uma ilusão pensar que a mocidade seja feliz, uma ilusão daqueles que a perderam. Os jovens sabem que são miseráveis, pois alimentam falsos ideais que lhes foram incutidos e todas as vezes que entram em contato com o real sentem-se magoados e contundidos. Dir-se-ia serem vítimas de uma conspiração. Os livros que leem, livros ideais pela necessidade de seleção, e a conversa dos mais velhos, que olham para o passado através da nuvem rosada do esquecimento, preparam-nos para uma vida irreal. São obrigados a descobrir por si próprios que tudo o que leram e tudo o que lhes ensinaram é mentira, mentira, pura mentira. Cada nova descoberta é mais um prego que lhes fixa o corpo à cruz da vida. O estranho é que as próprias pessoas que sofreram esses amargos desenganos trabalham inconscientemente movidas por irresistível força íntima, para criar essa mesma atmosfera." ("Servidão Humana", cap. XIX)